Fim do Azucrino

Estas visões. Figuras que aparecem com pertinácia. Clarões que trazem à tona a falácia de coisas já muito perdidas. Ilusões do passado, produto dum deformado pensamento desvirtuado pela descrença na verdade. Surge crescendo nos pulmões um grito escancarado pela sinceridade que pede o momento. Saiu de mim, como um lamento que ganha o ar, escapando-me de dentro do peito, feito um gracejo do destino que prega um delírio à minha vista cansada. E volta a desgraçada com sede de mais. Enche meus ouvidos, sufoca minha garganta. Atrai meu ser num visco e me quebranta. Eu digo, eu nego, mas não adianta. Afogo-me em palavras que são incapazes de inocentar a razão que permanece ignorada pelo coração. Maldito bandido que me traz perturbação. Fico alucinado procurando indignado por uma resposta a essa questão. Foge fácil a fala quando a face fita a figura dela. Faço-me de cego ao belo semblante que a tratante exibe. Corro por um instante prum mundo distante criado pela vontade de sumir dali. Mas não adianta. Quando percebi, era tarde. Sou uma criança que chora graças à realidade que lhe brinda com maldade tudo que sonhara com gosto. Isso não me foi imposto, de maneira alguma. Apenas sei que me provoca, em suma, porque lhe faz bem. Peste! Cesse isso agora! Veste tua pele de cordeiro e vá embora. Chega de azucrino. Agora termino a questão com o mofino momento desejado há muito tempo por mim de te deixar para trás. Falta nenhuma você me faz. Adeus.

Louco Medo

Louco.

A cada dia, fico mais um pouco. Sinto-me pressionado. Sinto-me sem ar. Sufocado. Mil mãos comprimem meu peito. Sou um velho que definha em seu leito. Gosto amargo que na boca aceso consome largo.

Medo. Corre atrás de tudo e todos, como o pecado que encoberto de certo vem a mim acorrentado. Persegue, vem de frente, entregue a sorte do Tempo. Senhor que não poupa um. Leva a todos, varre tudo sem restar algum.

“Deita” ele diz, “deita do meu lado”. Não quero, mas fecho os olhos, calado. Fina é a linha entre eu e aquele que me confina. Finalmente dorme, tento por um momento fugir do desalento que me consome.

Enorme é o caminho. Preciso segui-lo, preciso sozinho achar meu destino. Corro até a porta, empurro. Trancada! Solto um urro. Acordo a besta adormecida. Uiva, persegue-me, seu peito chia um ronronar de ira reprimida.

Agarra e me aperta. A sina é certa. Aproxima-se o fim. Arrebenta tudo, coração, tripas e rim. Carcaça no chão. Termina a criatura que na loucura fez do azedume sua sepultura.